Displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ)

Displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ) é nome dado em geral das alterações durante a formação do quadril, as quais podem ser congênitas ou de desenvolvimento após o nascimento. A DDQ manifesta-se de várias formas, dependendo do grau de deslocamento, da idade do paciente no diagnóstico e no tratamento ou, ainda, da condição do quadril, se é instável, displásico, subluxado ou luxado.

A displasia significa que o fêmur proximal, o acetábulo e a cápsula articular são defeituosos. A luxação da cabeça do fêmur pode ocorrer no útero (fetal ou pré-natal), no nascimento (perinatal) ou depois dele (pós-natal). Os achados clínicos e radiográficos, assim como as modificações patológicas, dependem do tempo de deslocamento.

A luxação do quadril é dividida em três grandes categorias:

Teratológica, que ocorre antes do nascimento e envolve graves deformidades do acetábulo, da cápsula e do fêmur proximal, associada a outras malformações, como mielomeningocele, artrogripose, agenesia lombossacral e anomalias cromossômicas.

Neurológica, em decorrência dos desequilíbrios musculares pós-natais, como na paralisia cerebral.

E a típica, que ocorre em crianças sem outras anormalidades.

Causas da Displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ)

As causas da DDQ são multifatoriais, mas as mais importantes são hiperfrouxidão ligamentar, excessiva anteversão do colo femoral, anteversão e/ou deficiência acetabular e má posição intrauterina.

Em recém-nascidos, a suspeita de DDQ costuma ser alta nas seguintes situações:

  • Existir história familiar.
  • Ocorrer oligohidrâmnios (pouco líquido amniótico).
  • For o primeiro filho e do sexo feminino (meninas têm incidência maior do que meninos, em proporção de 8:1).
  • Apresentar torcicolo, plagiocefalia, pé metatarso aduto ou calcâneo-valgo, contratura em extensão dos joelhos ou outras deformidades.
  • Tiver apresentação pélvica (aumenta a probabilidade de luxação em mais de 14 vezes no lactente a termo).

Flexão do quadril, durante os últimos meses de gestação, nas posições pélvica ou cefálica,  aliada à frouxidão ligamentar, pode evoluir para displasia residual ou subluxação, mostrando que essa posição é importante como causa de displasia do desenvolvimento do quadril. Na posição pélvica, o fêmur do feto em flexão e rotação externa pode ser forçado para fora do acetábulo, predispondo a criança a nascer com o quadril instável, subluxado ou luxado.

Diferença entre instabilidade e displasia do quadril

Na instabilidade, o quadril está contido e reduzido, mas frouxo, instável e, por conseguinte, passível de luxação, em decorrência da frouxidão cápsula ligamentar. Pode haver displasia concomitante.

Na displasia, ocorre desenvolvimento inadequado da articulação do quadril, incluindo o acetábulo, a cabeça femoral ou ambos.

No recém-nascido, a displasia, sem instabilidade ou luxação, é assintomática, e o exame físico é normal. O diagnóstico nessa fase é possível apenas por ultrassonografia. Quando tal condição vem acompanhada de instabilidade ou luxação, as manobras de Barlow confirmam o diagnóstico na avaliação por imagem.

Diagnóstico clínico para Displasia do desenvolvimento do quadril

O diagnóstico varia de acordo com a idade da criança, o grau de deslocamento da cabeça femoral (instável, subluxada ou luxada) e quanto à condição do deslocamento, se pré-natal, perinatal ou pós-natal.

No recém-nascido, o diagnóstico clínico de luxação do quadril é feito pelo teste clínico de Ortolani, e o de instabilidade, pelo teste de Barlow.

Dos 6 aos 12 meses, com o progressivo deslocamento posterolateral e cranial da cabeça femoral, aumentam as alterações anatômicas na articulação.

Diagnóstico por imagem

Ultrassonografia: O quadril do recém-nascido é cartilaginoso, e a cabeça femoral não é visível ao raio X. Por isso, até os 6 meses de vida, é mais bem avaliado pela ultrassonografia. Dois métodos são usados para avaliar o quadril: Estático de Graf, que analisa o fêmur proximal e o contorno da pelve, e o dinâmico de Harcke, que emprega a ultrassonografia em tempo real, o que permite o exame dinâmico, com o quadril em movimento, fundamentando-se na reprodução das manobras de Barlow e Ortolani. O método de Graf mede a displasia cartilagínea, e o de Harcke, a estabilidade do quadril.

O método de Graf sugere o tipo de tratamento conforme sua classificação. Os achados e a classificação de Graf promovem melhor avaliação e conduta, evitando até um tratamento desnecessário.

Raio-x: As radiografias do quadril do recém-nascido são de difícil execução e interpretação. Nessa idade, a cabeça femoral não está calcificada, e grande parte do acetábulo é cartilagíneo.

Tomografia computadorizada: Também não é empregada com frequência como método diagnóstico, mas usada quando se faz necessária a confirmação da manutenção de redução concêntrica durante o uso do aparelho gessado, que, por vezes, não dá uma imagem muito clara pela interposição do material gessado.

Tratamento para Displasia do desenvolvimento do quadril

O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para o sucesso da resolução da DDQ, quando bem aplicados. Pacientes com DDQ não tratados costumam apresentar poucos sintomas durante o período da infância até a fase adulta.

Anormalidades na marcha e redução da mobilidade do quadril podem estar presentes, mas a dor não costuma acontecer antes da fase adulta. Em compensação, indivíduos que apresentaram complicações durante o tratamento costumam ter problemas bem antes.

O tratamento deve ser bem sucedido, com o mínimo de complicações. O sucesso passa pela restauração da anatomia articular do quadril e a manutenção da função.

O tratamento da DDQ varia dependendo do grau de deslocamento da cabeça femoral, da gravidade da displasia e da idade da criança.

Tratamento: Recém-nascido até os 6 meses

O suspensório de Pavlik é formado por tiras que envolvem os membros inferiores, conectadas a um cinto torácico sustentado por suspensórios que se cruzam na região interescapular. Tem como função:

1) Manter os quadris em posição de flexão e abdução.

2) Evitar a extensão e a adução.

3) Desenvolver o acetábulo pela presença da cabeça femoral.

4) Promover a redução espontânea do quadril luxado.

Suas contraindicações são:

1) desequilíbrio muscular (mielomeningocele, paralisia cerebral, doenças neuromusculares). 

2) rigidez articular (artrogripose).

3) frouxidão ligamentar (síndrome de Ehlers- Danlos).

Quanto ao uso, é importante saber que as tiras anteriores limitam a extensão, e as posteriores, a abdução. O quadril deve permanecer em torno de 100° de flexão, e a abdução deve ser livre, dentro da zona de segurança de Ramsey, que vai da posição de conforto até a do limite capaz de produzir nova luxação. O aparelho não deve ser utilizado por crianças após os 6 meses de vida.

Tratamento: De 6 a 12 meses

Nessa faixa etária, quando o diagnóstico já é tardio ou quando o tratamento até então instituído não obteve sucesso, recorre-se à redução sob anestesia e aparelho gessado.

Quando a redução é suave, com o quadril em flexão e abdução, sem trauma ou pressão exagerada, concêntrica e estável, coloca-se o aparelho gessado em posição de redução e estabilização – flexão de 100 a 110° e abdução de 60°. A imobilização gessada é mantida por cerca de três meses.

Se a contratura dos adutores limita a abdução e dificulta a redução ou restringe o ângulo de estabilização, a tenotomia dos adutores pode ser suficiente para facilitar a redução e sua estabilização.

A artrografia na redução fechada deve mostrar uma redução concêntrica com a cabeça femoral posicionada abaixo do lábrum e medializada dentro do acetábulo.

No período dos 6 aos 12 meses de vida, as osteotomias são evitadas, pois a redução e a manutenção concêntrica da cabeça femoral no acetábulo costumam ser suficientes para, por meio da restauração das forças biomecânicas, promover o desenvolvimento do acetábulo e do terço superior do fêmur. No entanto, após a redução aberta ou fechada, o acetábulo poderá não responder de forma adequada ao estímulo da cabeça femoral, gerando um procedimento cirúrgico complementar.

O limite de idade até o qual a redução fechada pode ser tentada não está estabelecido com clareza. A necessidade de redução cirúrgica aberta não depende da idade do paciente, mas do grau de deslocamento, da deformidade do terço superior do fêmur, do acetábulo e da interposição de partes moles, que costumam impedir a redução e a estabilidade do quadril.

Tratamento: Mais de 18 meses

Cirúrgico: A redução aberta da articulação promove limpeza do fundo do acetábulo, ressecção do ligamento redondo (anômalo e aumentado), secção transversa e reposicionamento do limbo cartilagíneo interposto ou invertido , secção do ligamento transverso do acetábulo e capsulorrafia cuidadosa e eficiente (estabilizando firmemente a cabeça femoral reduzida). O quadril, então, é mantido em aparelho gessado, na posição de estabilidade.

Em algumas situações, são necessárias cirurgias complementares depois de algum tempo de pós-operatório e recuperação funcional do quadril. A osteotomia do ilíaco é necessária quando não há cobertura suficiente para a cabeça femoral, para aumento do índice acetabular e estabilização mecânica da articulação.

Complicações

As complicações do tratamento conservador ou cirúrgico, em qualquer idade, são inúmeras, sendo mais frequentes e graves quanto maior for a dificuldade do caso e a idade do paciente. As complicações mais comuns podem ser re-luxação, necrose avascular da cabeça femoral, displasia residual, dor e rigidez articular, infecção e fratura do fêmur depois da imobilização gessada, dentre outras.

Gostou do conteúdo? Esperamos ter ajudado com esse conteúdo. Lembre-se, caso você tenha algum sintoma, procure um ortopedista.

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